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quinta-feira, 20 de setembro de 2012

A vida pública não é programa de milhagem

Uma lição que os petistas deviam aprender
Manchete do site Brasil 247; abaixo José Genoino
Manchete do site Brasil 247; abaixo José Genoino


O ex-deputado José Genoino, hoje assessor especial do Ministério da Defesa, é um homem amargurado, e não é pra menos. Sua biografia mostra que no período mais tenebroso da ditadura militar teve coragem para enfrentá-la, lutou na Guerrilha do Araguaia contra a repressão, foi preso e torturado. Isso ninguém discute, eu seria o primeiro a defendê-lo se alguém quisesse manchar essa página do seu passado.

Imaginem um homem como Genoíno que arriscou sua própria vida e sofreu horrores na carne por defender a democracia, hoje se ver nas páginas do jornais como comparsa de um esquema criminoso de corrupção, como foi o Mensalão. Deve ser duro para ele, assim como para outros petistas que tiveram uma trajetória íntegra e corajosa de luta, na época da ditadura militar. Mas na vida as pessoas mudam, ou os fatos as transformam, e muitas vezes aqueles que eram do bem acabam escolhendo o pior dos caminhos, o do mal.

É sobre isso que Genoino e outros petistas devem refletir. Não adianta José Genoino apelar para o seu sofrimento no passado, para os seus serviços prestados à causa da democracia e da liberdade. Chantagem emocional não vai resolver a vida dele nem de ninguém. É fato comprovado que o Mensalão existiu, que Genoino era o presidente do PT, e que ele consta como avalista dos falsos empréstimos que o seu partido pegou para irrigar a teia de corrupção. Que ele deve estar arrependido não tenho a menor dúvida. Que se pudesse voltar no tempo, hoje não cometeria o mesmo erro, isso também é possível. Mas assim como não dá para apagar da memória que Genoino e outros brasileiros de todas as correntes políticas, e hoje nos mais diversos partidos, foram perseguidos, presos, torturados, exilados; também não se pode passar uma borracha no Mensalão.

Genoino chama os jornalistas de "neo-torturadores", se diz perseguido. Olha eu não sou a pessoa mais indicada para tomar a defesa da imprensa de um modo geral, afinal nenhum político em atividade hoje no Brasil sofreu e sofre tantas perseguições, tantos ataques mentirosos, tantas calúnias. Mas se existe algum torturador nessa história do Mensalão é o próprio Genoino. Ele que agrediu sua própria biografia, que não honrou seu passado de luta.

E lembro aqui que pelo que sofreu na ditadura militar José Genoino recebeu indenização financeira. Não que eu ache que isso reparou o que ele sofreu. Não sou hipócrita. Eu mesmo já recebi várias indenizações financeiras de veículos de comunicação por calúnias e difamações, mas sei que não há dinheiro no mundo que repare o que sofri, os prejuízos à minha honra.

O que quero mostrar é que a vida pública não é como esses programas de milhagem de companhias aéreas ou os clubes de afinidade de empresas de celular onde você acumula pontos e depois pode trocar por vantagens e benefícios. O que Genoino sofreu na ditadura não serve de atenuante para a sua participação na organização criminosa do Mensalão. É isso que ele, José Dirceu e outros petistas precisam colocar na cabeça, por mais que lhes cause uma enorme dor e um grande arrependimento.

O que Genoino quer é que seu passado o absolva. Se fosse assim, aquele famoso médico paulista Roger Abdelmassih que era o papa da reprodução artificial e que colocou tantas crianças no mundo, que trouxe alegria para tantos casais, deveria ser absolvido das monstruosidades que praticou, inclusive abusando de pacientes.

Um dia a história será reescrita com o distanciamento crítico que o passar do tempo proporciona, sem as influências e distorções impostas por quem está no poder, através de caminhos não muito visíveis. E ficará claro que o drama de José Genoino é fruto de que o PT nunca teve um projeto para o Brasil, nem estava preparado para mudar o país, tudo não passou de um projeto de poder, que seduziu e inebriou os "companheiros petistas" e resultou no Mensalão. Me perdoe José Genoino que eu já admirei, mas agora não adianta chorar.

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